sexta-feira, 13 de agosto de 2010

BLOG NOVEL CAPÍTULO I

 IMPACTO

                Meu corpo parecia fora do lugar. Era como se havia sido fortemente arremeçada e atingido algo de concreto. Minha mente funcionava em uma velocidade incrível, processando tudo que o ele sentia. As respostas vinham em pilhas mal acertadas e confusas. Com o rosto voltado para a terra fria e úmida não conseguia me mexer. Parecia que o mundo havia caido sobre mim, sem piedade ou aviso. Minhas roupas estavam rasgadas e ensopadas de sangue. Fazia muito frio e a sensação de solidão era devastadora. Com muito esforço desviei meu olhar para baixo e vi que tudo estava torcido. Vi uma de minhas mãos cheia de cortes, o braço imóvel e sem vida. Senti meu coração acelerar que pulsava na altura do pescoço como se tentasse de todas as formas escapar. Lembrei dos meus pulmões e percebi que pareciam intactos. Respirei fundo. Então foi que a sensação de que estava viva alagou meus pensamentos. A dor era tanta que os músculos paralizaram horrorizados com o sofrimento. Tentei me mover, nada. Mais uma vez, nada. Consegui com muito esforço trazer um de meus braços que estava sob o meu corpo para frente e apoiando com o punho no chão endireitei um pouco o meu corpo que neste momento gritava de dor. Desmaiei. Meus pensamentos não.
              De repente, como uma luz, aparece diante de mim, em uma sala ampla e escura, minha filha Ana. Com um olhar indiscutivelmente genuino, direto e profundamente carinhoso disse: - Mãe você se lembra da nossa última viagem a praia e da sensação que experimentamos juntas ao ver o por do sol em Trancoso? Você se lembra mãe? Ficamos lá enebriadas, seus olhos até se encheram de água e você dizia.: - Filha, isso não é extraordinário! E ai você pegou a minha mão e disse que as lembranças são eternas e quanto mais velhas mais fantáticas se tornam. Passam a ter cheiro e cor. Pois é... este momento foi com certeza um dos momentos mais mágicos de toda a minha vida! Então quero que você volte lá comigo, mamãe. Vem... Olha só, já posso sentir o cheiro do mar, a brisa no rosto, os pés gelados esperando mais uma onda quebrar. Aqui estamos seguras. Fiicaremos até tudo isto passar, o tempo que for preciso.


                O mar parecia mesmo especial. Se encontrava no horizonte com o céu que se desdobrava em cores que dançavam formando um tapete multicor: azul, verde, vermelho, laranja, roxo, lilás e amarelo.   
            Sempre tive verdadeiro temor em imaginar que quando morremos podemos não ser mais capazes de lembrar de nada. Tinha pânico de pensar que poderia perder meus vínculos mais importantes, minha filha, minha família. Sabia que se Deus permitisse restar apenas uma única lembrança eu daria um jeito de continuar olhando por eles. Não queria me transformar em nenhum fantasma ou coisa do gênero, mas de onde eu estivesse de alguma maneira conseguiria fazê-los sentir mais seguros e talvez um pouco mais felizes.
               
            E agora ali estava ela, minha filha Ana, ao meu lado com os olhos mais brilhantes como nunca jamais havia visto.



                 De repente meu corpo ficou exausto, ouvia vozes, tive a sensação de movimento, de correria, meu coração disparou, minha boca ficou seca e amarga. O mar sumiu. Fiquei na escuridão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário